sábado, 31 de dezembro de 2011

No Vale da Amoreira a excisão é uma prática real com resposta difícil, diz associação de imigrantes

« O tema é tabu. As histórias contam-se sem dizer nomes mas têm data recente: a Associação de Imigrantes Guineenses e Amigos do Sul do Tejo diz que no Vale da Amoreira, na Moita, há meninas a sofrer mutilação genital.

A associação (AIGAST) trabalha há dez anos para responder às necessidades da população do Vale da Amoreira, onde vivem mais de 12 mil pessoas - 30 por cento, estima-se, originárias da Guiné. O bairro é cinzento, pobre e tem um número elevado de desempregados. Em declarações à agência Lusa, Susana Piegas, da AIGAST, afirma que a mutilação genital feminina (MGF) "é uma questão muito presente" nos dias do bairro e assegura que "os números reais da prática da excisão de meninas - que ninguém consegue contabilizar - são avassaladores". "Identificamos na nossa comunidade pessoas que levaram a cabo a prática e outras que pretendem fazê-lo. Aqui há famílias em que todas as mulheres foram excisadas. Tivemos, por exemplo, há uns meses, conhecimento de que três meninas da mesma família foram mutiladas aqui no bairro e sabemos de outras que vão à Guiné para cumprir esse ritual", acrescenta.

Rosa Tavares, guineense, é também membro da AIGAST e coordena o departamento de saúde da associação. " Lusa conta que é casada com um muçulmano e que impediu que a sua filha fosse mutilada. Sobre a situação que se vive no bairro, acrescenta "o problema" de "haver muitas pessoas a ganhar dinheiro com a prática da MGF". Não diz quanto pode custar fazê-lo no Vale da Amoreira, mas afirma que a prática "gera muito dinheiro". Susana Piegas explica que a AIGAST quer "ajudar a combater este flagelo", mas considera que "isso só pode ser feito informando, sensibilizando, trabalhando na prevenção". "Queremos trabalhar junto da comunidade para desmistificar estas tradições intergeracionais. Temos dado alguns passos nesse sentido mas precisamos de mais recursos. O trabalho exige investimento e demora tempo a dar frutos, mas tem que ser feito. É preciso inverter esta situação", argumenta.

A mutilação genital feminina é reconhecida internacionalmente como uma grave violação dos direitos humanos. A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 140 milhões de mulheres, raparigas e meninas tenham sido já submetidas a esta prática e que cerca de três milhões se encontrem todos os anos em risco. Embora a prática ocorra sobretudo em países africanos, tem sido importada por comunidades imigrantes para a Europa, onde o Parlamento Europeu estima que vivam cerca de 500 mil mulheres e jovens mutiladas e 180 mil em risco anualmente.

No início deste ano, a propósito do Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, que se assinala a 06 de Fevereiro, o Governo apresentou o II Programa de Acção para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina (2011-2013) para "promover uma mudança de valores culturais" e "reforçar as medidas de prevenção". »


Fonte: Diário de Notícias On-Line
Sugestão de: Andreia Gonçalves

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Porno e masturbação "no escurinho" (ou não) em Lisboa


Ciclo organizado pela UMAR realiza-se a 2 e 3 de Dezembro, em Alcântara.

É "no escurinho", mas nem tanto. Querem-se, sim, conversas abertas sem preconceitos ou tabus.

Iniciativa da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), o ciclo "No escurinho do cinema: porno e masturbação" realiza-se a 2 e 3 de Dezembro, no Centro de Cultura e Intervenção Feminista, em Alcântara.

A abrir, às 20h de sexta-feira, o "workshop" "Como encontrar o Ponto G (e o encanto dos enquantos)?" Prometem-se algumas respostas com o "treino do pavimento pélvico e prazer vaginal", sugestões de estimulantes, brinquedos e explicação de técnicas de masturbação. Haverá ainda tempo para uma contextualização do movimento feminista.

Às 22h15, começa o cinema, e continuam as conversas, com "A Pornógrafa - Parte I". Em cartaz está o documentário de 2008 "Barcelona Sex Project" da sueca, sediada em Barcelona, Erika Lust. "Porno de bom gosto, cinema explícito para adultos, moderno, feminino e feministas" são termos a que a realizadora recorre para descrever o seu trabalho. No dia seguinte, sábado, às 14h, são exibidos "Cinco Historias Para Ellas" (2007), "Life Love Lust" (2010), "Love Me Like You Hate Me" (2010) e "Handcuffs" (2010).

O ciclo termina com uma actividade que promete: a escrita colectiva de um guião de filme porno. Existirá por aí um novo talento português? »


Fonte: Público On-Line | P3

sábado, 26 de novembro de 2011

Stalking: Perigo para mulheres jovens e sozinhas


O primeiro estudo sobre o fenómeno de assédio persistente em Portugal foi apresentado nesta sexta-feira. Reclama-se legislação capaz de abarcar todas as formas de stalking e, sobretudo, de punir este crime.

Ser mulher, solteira ou separada/divorciada e jovem são os factores de risco para a vitimação por stalking, segundo o primeiro estudo realizado em Portugal sobre este fenómeno que se define por uma perseguição ou um “assédio persistente”. O trabalho, coordenado pela investigadora da Universidade do Minho, Marlene Matos, foi apresentado hoje e conclui que 19,5 por cento das 1210 pessoas (homens e mulheres) inquiridas já foram vítimas de perseguição.

O stalking é definido como um “padrão de comportamentos de assédio persistente que integra formas diversas de comunicação, contacto, vigilância e monitorização de uma pessoa-alvo por parte de outra – o/a stalker”. Tentativas insistentes de entrar em contacto por cartas, telefonemas ou emails, perseguir, agredir, ameaçar, filmar ou tirar fotografias sem autorização, invadir ou forçar a entrada em casa, são algumas das muitas formas de stalking.

Marlene Matos defende a criação de legislação em Portugal para punir criminalmente o stalking, um “assédio persistente” cujas principais vítimas são as mulheres. “Em Portugal, o stalking não é crime, mas há necessidade de criar legislação específica para este fenómeno, à semelhança do que já acontece em vários outros países”, sustenta a investigadora, que gostaria de ver criada “legislação que inclua todas estas formas intrusivas”.

De acordo com as conclusões do estudo realizado na Universidade de Minho,
  • as mulheres (67.8 %) são as principais vítimas destas várias formas de perseguição e 
  • os homens são os principais stalkers (68 %)

  • Na maior parte das vezes o stalker é alguém conhecido (40,2 %)
  • ou ex-parceiro da vítima (31,6%)
  • Apenas 24,8 % dos inquiridos declarou que o stalker era um desconhecido

O risco de ser vítima de stalking é maior 
  • entre os 16 e 29 anos (26,7 % numa amostra de 80 pessoas) do que nos anos seguintes, 
  • entre os 30 e 64 anos, onde a prevalência baixa para os 20,3% numa amostra de 138 pessoas.
  • Acima dos 65 anos a prevalência encontrada nas 18 pessoas inquiridas foi de 7,8 %

As três formas mais declaradas de stalking neste estudo foram as 
  • tentativas de entrar em contacto (79,2 %), 
  • o “aparecer em locais habitualmente frequentados pela vítima” (58,5%)
  • ser perseguido (44,5 %)
Em média, as vítimas são alvo de mais de três comportamentos que podem ser definidos com stalking. “Genericamente, homens e mulheres relatam os mesmos comportamentos de vitimação. Duas excepções para “ser filmado ou tirar fotografias de forma não autorizada” que foi uma experiência mais comum entre os homens e “ser perseguido” que foi um comportamento de vitimação mais frequente nas mulheres”, refere o estudo.

Independentemente do sexo da vítima, a perseguição tende a prolongar-se 

  • entre as duas semanas (21,7%) e os seis meses (31,9 %)
“À medida que a intimidade da relação aumenta, aumenta a duração do stalking”, verificou o estudo notando ainda que “as agressões à vítima ou a terceiros ocorreram principalmente quando a duração do stalking foi superior a dois anos”.

As vítimas declararam ter sido afectadas na sua 
  • saúde psicológica (36,6 %) e no 
  • estilo de vida (25,4 %)
  • apenas 40 % procurou algum tipo de apoio, sendo que os pedidos de ajuda partiram sobretudo das mulheres (48,1 % vs 25 %). 
E a quem pediram ajuda? 
  • Em primeiro lugar a amigos (66,7 %)
  • seguidos dos familiares (64,6%)
  • dos colegas de trabalho/estudo (30,2 %)
  • Apenas 26 % optaram por recorrer às forças de segurança 
  • e 21,9 % a profissionais de saúde.
O stalking não está previsto como crime no Código Penal português, que, no entanto, pune várias acções singulares relacionadas com o fenómeno, como assédio sexual, ofensas à integridade física simples ou grave, violência doméstica, ameaça, violação de domicílio, devassa ou perturbação da vida privada. 

A expectativa deste estudo da UM é estimular o desenvolvimento de legislação específica e a implementação de medidas para protecção destas vítimas. Actualmente, na Europa, a lei anti-stalking já vigora em nove países, designadamente Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Itália, Malta e Reino Unido.


[alterada a forma sem prejuízo para o conteúdo]

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Portugal é o país com mais idosas abusadas sexualmente

Não são as vítimas mais frequentemente associadas a este crime, mas há mulheres entre os 60 e os 97 anos a serem abusadas sexualmente em Portugal. Somos o país com maior incidência do problema, segundo um estudo europeu realizado em cinco países.

Na população idosa, a violência sexual tem mesmo uma dimensão maior do que a violência física, cuja percentagem fica próxima dos 3%. Quando o foco é o abuso sexual, a percentagem é de 4%. O valor supera a média dos países alvo do estudo: Bélgica, Finlândia, Áustria, Lituânia.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Afegã violada tem de casar-se com o agressor para sair da prisão


Uma afegã de nome Gulnaz, de 21 anos, enfrenta um terrível dilema: ou permanece na prisão com uma filha pequena, cumprindo pena por ter sido violada por um homem casado, ou contrai matrimónio com o agressor para poder sair da prisão.
A única forma de Gulnaz ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério é casar-se com o seu agressor

Quando Gulnaz tinha 19 anos foi violada pelo marido de uma das primas. Dois anos depois, a jovem ainda se recorda dos pormenores do episódio: “Ele tinha as roupas nojentas, porque trabalha na construção. Quando a minha mãe saiu, ele veio até minha casa e fechou as portas e as janelas. Eu comecei a gritar mas ele calou-me, tapando-me a boca com as mãos”, descreveu Gulnaz à CNN.

Depois da violação não contou a ninguém o que se tinha passado – sabendo que não seria ajudada – mas depressa a verdade veio à tona: estava grávida.

Acabou por ser julgada por adultério e condenada a 12 anos de prisão. É lá que está actualmente, com a sua filha. Cumprem pena em conjunto.

Para sair da prisão, só tem uma solução: casar-se com o seu agressor. A única forma de uma mulher afegã ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério, é casar-se com o seu atacante.

E é precisamente isto que Gulnaz está disposta a fazer. “Perguntaram-me se eu estava disposta a começar uma nova vida de liberdade casando-me com este homem”, disse a jovem à CNN. “A minha resposta foi que há um homem que me desonrou e que eu quero ficar com esse homem”.

A jovem diz que na sua decisão pesa o futuro da filha. Só assim poderão permanecer juntas e em liberdade.

Mas - adianta a CNN - a escolha de Gulnaz não a livra de perigo. A família do atacante ou mesmo a sua própria família poderão querer matar a jovem por ter desonrado o nome familiar. É muito provável que, mal ponha pé fora da prisão, Gulnaz corra perigo de vida.

Casos como o de Gulnaz são comuns no Afeganistão mas este tornou-se notícia após uma disputa entre a UE e uma equipa de realizadores contratados pela própria União Europeia para levarem a cabo uma série de documentários sobre os direitos das mulheres no Afeganistão.

Os realizadores fizeram uma extensa reportagem sobre Gulnaz e sobre histórias de outras mulheres que falaram abertamente para as câmaras, sem lenços a cobrirem-lhes os rostos, sobre as suas vidas.

Depois de mostrarem as filmagens aos responsáveis da UE, estes decidiram cancelar o projecto afirmando que essas mulheres poderiam ser identificadas e sofrer represálias.

Mas os realizadores - citando um e-mail da UE cujo conteúdo foi parar aos media – afirmam que o problema está nas relações delicadas entre a UE e o Afeganistão, que é apresentado de forma muito pouco favorável (especialmente o seu sistema judicial).

Pode ler-se no e-mail, segundo a CNN: “A delegação tem de considerar as suas relações com as instituições de Justiça afegãs”.

O embaixador da UE para o Afeganistão, Vygaudas Usackas, rejeitou, porém, qualquer motivação política para a suspensão do projecto documental. “Eu estou realmente preocupado é com a situação das mulheres. Com a segurança e o bem-estar destas mulheres (...) esse é o critério de acordo com o qual eu - como representante da UE - irei julgar este caso”, disse o embaixador, citado pela CNN.


Agradeço o contributo a: Afonso

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Denúncia da violência contra mulheres desfila em Lisboa na sexta-feira


Pela primeira vez em Portugal, a denúncia da violência contra as mulheres tomará a forma de uma marcha de rua, que vai acontecer na sexta-feira, em Lisboa, juntando 60 entidades.

Organizada pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), pela ComuniDária - Associação de Integração de Migrantes e Minorias Étnicas e pelo movimento SlutWalk Lisboa, a marcha vai partir do Largo de Camões, às 17h, em direcção ao Rossio.

A iniciativa “surge da necessidade” resultante de “algumas decisões na justiça que revitimizam as vítimas de violência”, explicou à Lusa Salomé Coelho, da direcção da UMAR.

O comunicado sobre a marcha distribuído à imprensa indica que o objectivo é “combater” as “situações em que vítimas de violações, abusos, assédio não vêem os seus direitos tomados em conta em sede da justiça”.

Sem particularizar os casos judiciais a que se refere, Salomé Coelho recorda a mais recente manifestação, a 14 de Maio, em frente ao Tribunal da Relação do Porto, por altura do acórdão que absolveu um psiquiatra do crime de violação contra uma paciente grávida.

Em Julho de 2010, um psiquiatra foi condenado em primeira instância a cinco anos de cadeia, com pena suspensa por igual período, por violação de uma cliente, grávida, durante uma consulta privada realizada na residência do especialista.

O psiquiatra recorreu para a Relação do Porto, que, num acórdão de 13 de Abril, revogou a decisão da primeira instância, absolvendo-o. Um dos três desembargadores, Baião Papão, votou contra. O Ministério Público interpôs recurso do acórdão para o Supremo Tribunal de Justiça.

“Este grupo de pessoas e associações sentiu necessidade de sair à rua e tornar público que não somos cúmplice desta violência, destas decisões da justiça, e que estamos vigilantes, que não permitiremos nem mais uma mulher revitimizada pelas instituições”, afirma Salomé Coelho, apelando à “mobilização geral da sociedade civil”.

“É imperativo que se comecem a adoptar, de forma rigorosa e generalizada, os mecanismos necessários para combater as opressões de género”, argumentam os organizadores, no comunicado distribuído à imprensa.

Esperando “a reposição dos direitos humanos das mulheres”, denunciam que “o que tem sistematicamente vindo a acontecer é que a justiça, ao invés de ressarcir as vítimas, reforça o poder dos agressores”.

Isto porque, consideram, a violência contra as mulheres, nas suas várias formas, está ainda rodeada “de uma ideologia de culpabilização das vítimas”.

Situações tão diversas como “os piropos na rua, os telefonemas indesejados, a culpabilização pela roupa que se usa, o julgamento moral das sexualidades, o insulto” são “violências” sobre as quais “existe permissividade geral”, criticam.

A marcha de rua de sexta-feira conta com o apoio de 60 entidades nacionais, entre associações, partidos políticos e instituições governamentais.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Filhas de Eva (crónica de João Teixeira Lopes no P3)

Da feminização da população activa aos direitos sexuais e reprodutivos; da entrada em força nas profissões de onde estavam excluídas (por uma suposta “natureza biológica” que determinava uma “vocação social”) à predominância quantitativa e qualitativa (em termos de sucesso escolar) nos vários níveis de ensino, tudo parece confluir para que consideremos a alteração dos lugares e das identidades femininas como uma das mais explosivas mudanças sociais das últimas décadas.

Mas, nas entranhas das rupturas, permanecem os paradoxos de um país onde se vive uma estranha mescla entre o rural e o urbano, o arcaico e o moderno, o preconceito e a emancipação. Portugal não segue, para desespero dos mais ortodoxos, modelos clássicos de evolução social.

Elas são melhores em termos de resultados escolares. Mas são também tendencialmente mais submissas à disciplina e à ordem escolar. Nas empresas, mesmo quando detêm uma certificação escolar e níveis de autonomia e até de autoridade homólogos aos dos seus colegas masculinos, continuam a auferir remunerações inferiores. Quando é necessário contratar contingentes de mão-de-obra flexíveis, intermitentes e polivalentes, elas são as preferidas, prolongando a velha crença de que, sendo mulheres, arrecadam o segundo salário, logo, o subalterno no seio dos rendimentos familiares.

As tarefas educativas das políticas públicas – escolas, departamentos educativos de museus, bibliotecas; etc. – são-lhes preferencialmente confiadas, numa aproximação, nada subliminar, à ideologia maternal (na sua dupla vertente: educar é feminino e educar deve ser mal pago, porque pode e deve conciliar-se com outras tarefas).

Mesmo nas famílias, onde o casamento é cada vez mais um projecto e o divórcio um ajustamento; em que as relações sexuais pré-conjugais separam sexualidade e procriação, em que a divisão sexual das tarefas surge retoricamente como inexorável – mesmo aí, ei-las a acumular tarefas, a conciliar trabalho e carreira (quando a há…), lides domésticas, educação dos filhos, cuidado dos mais velhos e lazeres.

Na esfera da apresentação de si, libertam-se um pouco das correntes da “boa aparência”. Mas a tirania do corpo perfeito; a obrigação de certas posturas e roupagens; o “trabalhar” da “máscara” e do “look” – é sobre si que apertam. Não por acaso, os casos de anorexia, em que a pressão social da perfeição corporal performativa atinge o paroxismo, são em larga parte femininos. Sexualmente hedonistas, representam ainda assim os afectos como uma certa legitimação da sua expressão erótica.

Até nos usos da Web 2.0, as diferenças irrompem: elas passam menos tempo na Net (porque as tarefas são múltiplas), gerem a sua identidade com precaução e privilegiam a comunicação aos negócios. Emancipação mitigada, dir-se-ia, e em tempos descontínuos. Paradoxo dos paradoxos, sabe-se agora que as jovens portuguesas, que vão preferindo a união de facto e casando tardiamente, são, a nível mundial, das que menos filhos têm.

Uma vez mais, misturam-se laivos de desenvolvimento (controle da natalidade; dissociação entre conjugalidade, casamento e reprodução) com entraves de atraso estrutural (não há dinheiro para ter filhos, habitar casa própria e construir um percurso de autonomia). Este país desafia os estereótipos sociológicos e é um laboratório fascinante de estudo. Mas cansa, na sua injustiça. Elas que o digam.


Texto de João Teixeira Lopes (sociólogo e docente na Universidade do Porto)
Fonte: P3

UMAR apoia Marcha pelo Fim da Violência - GREVE GERAL 25 Novembro



Desde 1999, data em que a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o 25 de Novembro como o "Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres", que este é um dia de reconhecimento, batalha e resistência.

A violência contra as mulheres é um fenómeno inerente à opressão patriarcal e à existência de culturas machistas e misóginas em diferentes sociedades, revelando inegavelmente o quão coxas ainda estão as nossas democracias.

A violência contra as mulheres é generalizada e, apesar dos vários Planos Nacionais para a Igualdade e Contra a Violência Doméstica e das campanhas já realizadas, o crime parece não estar a diminuir. De acordo com a ONU, uma em cada três mulheres no mundo já foi espancada, coagida sexualmente, ou vítima de algum tipo de abuso; e uma em cada quatro mulheres na Europa está exposta a um destes tipos de violência. Em Portugal, só em 2010, foram assassinadas 43 mulheres por violência doméstica e de género (Observatório de Mulheres Assassinadas, 2010).



Esta violência é infligida maioritariamente pelos homens (maridos, ex-maridos, companheiros, ex-companheiros namorados, ex-namorados e parentes) que, frequentemente, recorrem a este meio para preservar ou reforçar o seu poder sobre as mulheres, sendo um problema transversal ao nível social, económico, religioso ou cultural.

Sabemos que um dos principais motivos pelos quais as cifras da violência doméstica aumentaram tem a ver, na verdade, com o aumento das suas denúncias, o que representa um avanço importante. Há, pois, mais mulheres a denunciar e mais gente vigilante. Contudo, sabemos também que muita violência continua invisível.


Uma das razões para a invisibilidade da violência é o facto desta ocorrer, muitas vezes, na sombra, entre as quatro paredes do espaço privado, a casa. Outra das razões prende-se com o facto de, na maior parte das vezes (nomeadamente, devido ao receio das próprias vítimas e/ou à sua dependência económica e afectiva), não haver acusação. A terceira razão, para a invisibilidade da violência contra as mulheres, resulta da perpetuação dos valores dominantes, das tradições e até, das próprias leis, onde o fenómeno já foi considerado natural e normal, raramente interpretado como um crime de género. Basta lembrar a célebre atenuante do marido que matou a mulher: “ela deixava esturrar o arroz”. Isto só funciona como atenuante porque o/a juiz/a aceita os papéis de género. Se fosse ao contrário, a mulher nunca teria a pena atenuada por uma razão destas.

A quarta razão está relacionada com o facto de, ainda hoje, serem aplicadas penas que, de tão leves (como a pena suspensa), pouco protegem a vítima, deixando o criminoso praticamente impune, mesmo sendo a violência doméstica considerada crime público. Isto significa que a violência continua, de certa maneira, a ser aceite, sendo percebida tanto pelas pessoas, como pelas instituições e pelo Estado, como uma questão de ordem estritamente privada e não como um crime relevante para a esfera pública.


A violência contra as mulheres adopta várias formas, desde a violação do direito à autodeterminação, ao casamento forçado, à molestação sexual ou psicológica, à exploração ou discriminação, continuando a existir mulheres assediadas, violadas, traficadas, mutiladas e assassinadas em todas as partes do mundo. Frequentemente, o agressor fica impune ou cumpre penas absolutamente ridículas e insultuosas para as vítimas e para o próprio combate às violências, como temos verificado, demasiadas vezes, nos jornais ao longo deste ano.

Assim, é fundamental combater este problema procurando-se, sempre que necessário, fazer justiça.


Com esta marcha pretendemos sensibilizar a sociedade para este fenómeno. É imperativo que se comecem a adoptar, de forma rigorosa e generalizada, os mecanismos necessários para combater as opressões de género, articuladas com opressões económico-sociais, de etnia, nacionalidade, orientação sexual e outras.

Enquanto o provérbio popular diz que: Entre marido e mulher ninguém mete a colher. Nós dizemos: Entre marido e mulher alguém meta a colher. Se possível, cidadãos e cidadãs intolerantes com a violência, polícias capazes de identificar a natureza do crime e, por conseguinte, capazes de accionar as medidas que este tipo de crime requer, e juízas e juízes que tenham presente que não são admissíveis atenuantes arreigadas em valores patriarcais, porque o patriarcado parte da desigualdade e a lei diz que somos iguais.



A violência contra as mulheres não faz o nosso género!

É tão antiga como a Humanidade.

Envergonha e diminui.

É uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais.

É um crime público.

É uma barreira à igualdade de género.

Uma em cada quatro mulheres é alvo de violência.

O espaço doméstico tem sido o maior palco de violência contra as mulheres.


Quem bate nas mulheres fere toda a família.

É preciso combater a violência sexista.

É urgente mudar as mentalidades e eliminar a violência contra as mulheres.

Somos contra a impunidade da violência contra as mulheres.

Não toleramos mais a violência contra as mulheres.

Exigimos justiça.



Não somos cúmplices nem indiferentes!
Nem mais uma. Estamos vigilantes!










Manifesto dos Precários Inflexíveis (Greve Geral de 25 de Novembro): 

sábado, 5 de novembro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«Prostituição está a aumentar em Portugal»


A crise está a levar cada vez mais mulheres a recorrer à prostituição. Associações de Lisboa e Coimbra, ouvidas pela TSF, dizem que nunca se assistiu a uma situação tão grave.

Há mais de 40 anos que Inês Fontinha, a directora da Associação "O Ninho", acompanha prostitutas e tenta tirar mulheres das ruas de Lisboa. À TSF, a responsável confessou que nunca viu uma situação igual à que se passa hoje.

«Neste momento estamos a viver uma crise muito mais acentuada do que vivemos na década de 80 e a prostituição está a aumentar de forma preocupante», afirmou Inês Fontinha, acrescentando este aumento não se reflecte apenas na prostituição de rua mas também «em apartamentos e bares».

A associação encontra cada vez mais prostitutas com origem na classe média, entre os 30 e os 40 nos. A culpa é da crise, defendeu Inês Fontinha.

«A partir de 2010, temos notado um acréscimo significativo de mulheres na baixa etária dos 30/40 anos, o que não é uma situação muito comum. Este empobrecimento leva a que as mulheres recorram à prostituição para poderem ter meios de subsistência», explicou a directora da Associação "O Ninho".

Um cenário que se repete em Coimbra, onde se contaram mais de 400 prostitutas e prostitutos em apenas nove meses, mais do que em todo o ano passado. Martinha Silva é directora da equipa de intervenção social do projecto "Ergue-te", que também acompanha prostitutas.

«Durante o ano de 2010 atendemos mais de 400 pessoas em contexto de prostituição e este ano já ultrapassamos este número, ou seja, tem havido de facto um aumento significativo da prostituição. Há muitas pessoas de outras nacionalidades, mas em termos de portugueses temos notado também um aumento significativo», referiu Martinha Silva, acrescentando que as mesmas «identificam o recurso à prostituição com uma situação económica mais difícil».

Quem tenta ajudar as prostitutas sublinha: este é sempre um último recurso das mulheres com dificuldades económicas.


FONTE: TSF

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Machismos de Hoje

Quatro raparigas raparigas passam por um corredor onde estavam 5 rapazes em grupo. Ao passarem ouve-se:

"0, 4, 0, 6"   (estavam a atribuir-lhes notas sobre o corpo)

.........................................................

O professor universitário para uma aluna que percebeu o que ele tinha acabado de explicar:

"estão a ver como ela é bem mandadinha...?"

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

a defender a "igualdade", contra o "feminismo"! ... como?!

Por momentos pensei que estava a ler o FacebookLeaks.

Nota: eu conheço pessoalmente o "machista 1". Por isso, escondi a identidade de todos os intervenientes. No entanto, asseguro-vos de que isto é real e que pode ainda ser encontrado no facebook.


Aviso: a leitura do que se segue pode causar sérios problemas psicológicos.




Mas isto faz sentido para algum dos meus leitores? não há comentário possível...


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

« Saudita condenada a dez chicotadas por conduzir


As sauditas ainda não tinham acabado de festejar o direito a votar e a candidatar-se nas eleições municipais, anunciado domingo pelo rei Abdullah, quando souberam da condenação de Shaima Jastaina a dez chicotadas por conduzir.

Nunca nenhuma mulher tinha sido condenada por guiar

As mulheres não podem guiar na Arábia Saudita mas nunca nenhuma tinha sido condenada a qualquer punição legal.

“Como é que uma mulher pode ser chicoteada por guiar se a pena máxima por uma violação de tráfico é uma multa?”, questionou-se Sohila Zein el-Abydeen, da Sociedade Nacional de Direitos Humanos (governamental).

Para Abydeen e outras activistas a sentença é uma retaliação do establishment religioso contra o rei e as reformas. “O nosso rei não merece isto”, disse ao telefone com a Reuters, numa conversa em que teve um ataque de choro. “Este veredicto foi um choque para mim, mas já esperávamos este tipo de reacções.”

Jastaniah foi condenada num tribal de Jidá, onde foi presa em Julho. Já recorreu da sentença. Entretanto, a activista Madiha al-Ajroush foi brevemente detida na terça-feira depois de ter sido interpelada quando conduzia acompanhada por uma jornalista francesa que está a realizar um documentário sobre as mulheres no reino. Segundo a conta de Twitter da campanha Women2Drive, foi libertada depois da intervenção do consulado francês. Uma terceira, Najla Hariri, foi acusada de “desafiar o monarca”.

Por coincidência, Hariri estava a responder no gabinete da procuradoria enquanto o rei Abdullah discursava. Hariri conduziu não em desafio, mas por necessidade. “Precisei de deixar o meu filho na escola e de apanhar a minha filha no trabalho”. Um problema que enfrentam todas as sauditas que não podem pagar os perto de 300 euros que um motorista custa por mês.

Madiha al-Ajroush é uma veterana activista: em 1990 foi presa com 40 sauditas por conduzir. Em Junho foi lançada uma nova campanha e dezenas de mulheres têm conduzido e publicado vídeos no YouTube. Manal al-Sherif, promotora da iniciativa, esteve detida dez dias mas foi libertada depois de assinar uma declaração em que se compromete a não conduzir nem falar com jornalistas.

Normalmente é isso que acontece quando uma mulher é apanhada - assina uma declaração afirmando que não voltará a fazê-lo. Aliás, não há nenhuma lei que diga que as sauditas não podem conduzir, mas é proibido passar-lhes licenças de condução.

“Permitir que as mulheres votem está muito bem mas se vão ser chicoteadas por exercer o direito à liberdade de movimentos, então as reformas do rei significam muito pouco”, comentou a Amnistia Internacional. »


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

«PAN quer reflexão sobre a violência doméstica


O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) defendeu hoje uma reflexão sobre a violência doméstica, considerando que a sociedade deveria preocupar-se com os “números invisíveis” do problema.

“Mais importante que falar dos números que são mais visíveis, é importante falar dos números invisíveis, do silêncio que há em cada lar, em cada casa, de uma violência camuflada que é, muitas vezes, difícil de comprovar e para a qual a sociedade deveria estar mais preocupada e não apenas com a fase final em que as vítimas são mortas”, declarou a candidata Laíz Vieira.

Numa conferência de imprensa no Funchal, a candidata na lista liderada por Rui Almeida afirmou que os números da violência doméstica “são alarmantes”, referindo a este propósito as “dezenas de mulheres que morrem anualmente às mãos dos seus companheiros”.

Para a responsável, as entidades públicas, mas também privadas, deveriam “fazer um trabalho interdisciplinar” para “travar este flagelo”.

“É muito nobre que haja casas de abrigo para as vítimas, mas também não é aceitável que as vítimas tenham que sair de sua casa quando são elas as pessoas mais violentadas e desrespeitadas”, acrescentou Laiz Vieira.

A candidata apelou às vítimas para que procurem “todo o tipo de ajuda possível para combater a situação” e aos seus familiares para que façam “tudo por tudo para não relativizar o problema”.

“A violência doméstica é um fenómeno sobre o qual temos de continuar a reflectir e a sentirmo-nos escandalizados e indignados enquanto existir um só caso”, disse Laís Vieira, lembrando que o PAN é “um partido pela não-violência”.

O PAN concorre pela primeira vez a um sufrágio regional, depois de se ter estreado, a 05 de junho, nas eleições legislativas nacionais.

Nas últimas eleições regionais, em 2007, o PSD, com 64,24 por cento de votação, elegeu 33 dos 47 deputados no Parlamento deputados, mantendo a maioria absoluta, obtida, pela primeira vez, em 1976.»



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Manifesto repudia preconceito contra mulheres brasileiras


Para manifestar o repúdio face ao “preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal” e “exigir que providências sejam tomadas por parte das autoridades competentes” está a ser divulgado um manifesto pela organização “Marcha Mundial das Mulheres Portugal”.
Os seus subscritores contestam o estigma da hipersexualidade a que estão votadas as brasileiras, o que consideram “uma violência simbólica que se transforma “em violência física, psicológica, moral e sexual”.E referem trabalhos de investigação que “têm demonstrado como as mulheres brasileiras são constantemente vítimas de diversos tipos de violência em Portugal”

O principal motivo que agora levou um grupo de mais de cem pessoas a mobilizarem-se para fazer este manifesto é o surgimento “da personagem “Gina”, do Programa de Animação “Café Central” da RTP (Rádio Televisão Portuguesa)”, explicam os seus autores, esclarecendo que “a personagem é a única mulher do programa, a qual, devido ao forte sotaque brasileiro, quer representar a mulher brasileira imigrante em Portugal”.

Essa personagem “é retratada como prostituta e maníaca sexual, alvo dos personagens masculinos do programa”, o que consideram “um desrespeito às mulheres brasileiras, que pode ser considerado racismo”, afirmam os subscritores do manifesto que exigem “das autoridades competentes”, o cumprimento da “CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres”, da qual tanto Portugal, como o Brasil, são signatários."


domingo, 18 de setembro de 2011

"Mulheres portuguesas ganham menos 18 por cento que os homens"


« As mulheres portuguesas ganham, em média, menos 18 por cento que os homens (181 euros), apesar de a sua participação no mercado de trabalho ter aumentado nos últimos anos, segundo um estudo da CGTP. Hoje decorre em Varsóvia o Congresso Europeu da Mulher.

De acordo com o estudo sobre a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho, a taxa de actividade feminina é de 56 por cento, menos 11,9 pontos percentuais do que a taxa de actividade masculina, que é de 67,9 por cento.

O estudo, elaborado com base em dados do INE - Instituto Nacional de Estatística, refere que em Portugal as mulheres representam 47,3 por cento da população activa e 47 por cento do emprego total.

No entanto, a remuneração base média mensal dos homens (1.003,7 euros) era no ano passado superior em 18 por cento à das mulheres (822,7 euros). Se o referencial for o ganho médio mensal e não apenas o salário base, então a diferença ainda é maior, de 21,6 por cento.

O sector da saúde e do apoio social é aquele onde a diferença salarial é maior (33,5 por cento). Em média os homens ganham 1.202,05 euros e as mulheres 798,91 euros (menos 403,14 euros). A diferença é menor no sector do comércio. Os homens ganham em média 1.122,03 euros por mês, enquanto as mulheres ganham 910,29 euros, o que corresponde a menos 19 por cento (211,74 euros).

São também as mulheres que representam a maioria dos trabalhadores que auferem o Salário Mínimo Nacional - 12,3 por cento, enquanto para os homens essa percentagem é de 5,9 por cento.

Eurodeputada Edite Estrela quer legislação para acabar com diferenças

A eurodeputada Edite Estrela, vice-presidente da comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade de Género, defendeu hoje a necessidade de serem aplicadas na União Europeia medidas legislativas para acabar com a diferença salarial entre homens e mulheres.

Edite Estrela vai representar o Parlamento Europeu no Congresso Europeu da Mulher, que decorre hoje em Varsóvia, no âmbito da Presidência Polaca da UE. “Vou aproveitar este congresso para reafirmar a necessidade da Comissão Europeia apresentar medidas que garantam a igualdade salarial entre homens e mulheres e também a participação da mulher nos processos de decisão, a todos os níveis, incluindo das administrações das grandes empresas”, afirmou.

Segundo Edite Estrela, as mulheres ainda estão muito pouco representadas nas administrações das empresas da União Europeia, apesar de representarem 60 por cento dos licenciados que saem das universidades.

“Só um em cada 10 membros de administrações das maiores empresas europeias são mulheres e 97 por cento dos presidentes dessas empresas são homens”, salientou.

Para a eurodeputada socialista a solução para esta situação só será conseguida com a aplicação de leis para a paridade, que “as empresas vão ter de cumprir”.

O 3º Congresso Europeu é o maior evento internacional dedicado às questões sociais durante a Presidência semestral da Polónia e conta com a presença da Comissária Europeia para Justiça e Direitos Fundamentais, de vários ministros europeus responsáveis pela pasta, e de especialistas e representantes de organizações não-governamentais dos 27 Estados membros da EU. »


domingo, 28 de agosto de 2011

Os Clã e o seu manifesto anti-patriarcal para... crianças!

Os Clã têm um novo álbum, o Disco Voador, que surgiu de um convite para fazer um espectáculo direccionado para crianças no âmbito do festival Estaleiro. Os próprios escrevem: «"Disco Voador" é um trabalho feito a pensar no universo dos Supernovos, nos seus sonhos e medos, amigos e amores, integralmente composto por canções originais, lúdicas e irreverentes, cheias de histórias de crianças e para crianças» (Fonte: Wikipedia). Porém «Seguros de que nenhum humano mata totalmente a criança e o adolescente que mora dentro de si, os Clã sabem que este Disco Voador se destina descaradamente a todos os públicos. As aspirações, os desejos, os temores, as inquietudes dos supernovos são sérias e densas. A galeria de figuras que fala nestas canções quer exprimi-las o mais livremente de que é capaz. Ou seja: escutando e dando a ouvir a música das esferas que habita o seu mundo interior.”» (Fonte: Site Oficial).

Por isso, neste álbum existem músicas que tratam também de assuntos sérios, como, por exemplo, os dogmas a sociedade patriarcal que insiste em acentuar as diferenças entre rapaz e rapariga e que não vê com bons olhos as relações homossexuais. A culpada é Regina Guimarães. Sobre ela, Manuela Azevedo (vocalista dos Clã) tem a dizer que «pensámos que a Regina podia ser uma autora interessante para este desafio. Conhecemos algumas coisas que ela já escreveu para crianças e tinham características que nos agradavam muito. Eram desafiadoras, eram politicamente-incorrectas. Ou seja, olhavam para os miudos como gente inteligente, que gosta de ser desafiada, que gosta de ser espicaçada e não como uma espécie de espectadores distraídos em que nós temos de lhes dar o beábá todo muito direitinho e sempre tudo muito bonito, sempre tudo muito perfeitinho, com as pontas todas arredondadas porque eles são muito frágeis ou porque eles são distraídos e não sei quê. Ela tem uma maneira de olhar para as crianças com respeito por aquilo que eles são capazes.» Helder Gonçalves (compositor da maioria das músicas e músico da banda) acrescenta «Das primeiras coisas que eu pensei quando começamos a trabalhar neste projecto foi nós não vamos simplificar as coisas».


Fonte: Estaleiro TV (clique para ver entrevista completa)



Deixo-vos este magnífico manifesto:




Arco-Íris

Há meninas em rebanho
E há bandos de rapazes
Elas são sossegadinhas
Eles devem ser audazes

Dizes tu que não condizem
Cor de rosa e azul celeste
Cada sexo em seu lugar
Foi assim que me fizeste

Mas então porque razão
Ainda vês com maus olhos
O homem que ama outro homem
A mulher que ama mulher

Se os separas à nascença
E fazes tanta questão
De manter a diferença
Entre a irmã e o irmão

Viva, a maria-rapaz
E o rapaz que não é peste
Viva a roupa que baralha o sexo
De quem a veste

Viva todo o arco-íris
E a cor se mistura
Sete quintas, meias tintas
Viva a fúria e a doçura

Não me voltes a dizer
Que as crianças a crescer
Precisam de copiar
O papá e a mamã

Deixa ser eu a escolher
Por quem me perco e me dano
Porque eu amo a minha irmã
E amo também o meu mano

Será que nunca sentiste
Que somos pó do universo
Sujeitos à atracção
Do que é igual e diverso

E será que não gravitas
À volta de quem te ama
Use vestido ou gravata
Borboleta busca chama

Amar sem olhar a quem
Nem ao sexo, nem à cor
Não é vício nem pecado
Não é mau nem mau-olhado

Amar sem medo ou vergonha
Amar a torto e a direito
Amar sem manha nem ronha
Não é tara, nem defeito

Amar sem olhar a quem
Não é tara, nem defeito
Amar sem olhar a quem
Amar a torto e a direito

Amar sem olhar a quem
Não é tara, nem defeito
Amar sem olhar a quem
Amar a torto e a direito


domingo, 21 de agosto de 2011

Senhora

- Senhora, o que te faz tão franzida
Tão refeita
Tão suspeita?
Quem escolhe a mansa vida
Verá bem o que rejeita.

- Vai e traz-me um cabelo
Dum dragão enamorado
Pois se me falas de amor
Quero vê-lo feito e provado.
à volta dar-te-ei guarida
Sentar-te-ei a meu lado.

- Senhora, o que te traz tão sujeita
Tão faltosa
Suspirosa?
Quem fia, borda, ajeita
Murcha cedo como a rosa
Não tem ciência nem prosa
Não sabe o nome que aceita.

- Vai roubar o setestrelo
A um deus mau e zangado
Pois se me dizes saber
Quero prová-lo, e habitado.
à volta dar-te-ei suspeita
De que não estás do meu lado.

- Senhora, o que te jaz tão famosa
Tão ausente
Tão pugente?

- Quem escolhe, parte e rejeita.
Quem parte, vai e não colhe.
Quem vai, faz e não ama.
Quem faz, fala e não sente.
São teus olhos os sujeitos
São de granito os meus peitos.
Quem fia, borda e ajeita,
Quem espera, fica e não escolhe,
Quem cala, quieta na cama,
Sou eu deitada a sentir
Tua roda de fugir
Tua cabela em meu ventre.

11/3/71

As Três Marias - Novas Cartas Portuguesas
( Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa )

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

E orgulhamo-nos nós de viver na "velha Europa"...


"Italiana raptada e violada durante três dias em Lisboa 

A italiana, de 25 anos, foi sequestrada, agredida e repetidamente violada durante três dias numa pensão em Lisboa. O agressor foi presente a tribunal mas o juíz deixou-o sair em liberdade.

Uma turista italiana, de 25 anos, foi sequestrada em Lisboa e repetidamente agredida e violada durante três dias, numa pensão do centro da capital.

Na passada sexta-feira a recém-licenciada chegou a Lisboa, após uma viagem pela Europa. Junto à estação de metro de Arroios, um homem, de 42 anos, perguntou-lhe se precisava de ajuda e ofereceu-se para lhe indicar o caminho para o hotel, mas acabou por leva-la para pensão onde estava hospedado. O rapto durou até domingo, dia em que a jovem conseguiu fugir ao terror, avança o "Correio da Manhã".

As perícias levadas a cabo pela Polícia Judiciária e Instituto de Medicina Legal não deixam dúvidas sobre a violação e repetidas agressões que deixaram a jovem com o corpo todo marcado.

O homem foi presente ao tribunal, mas o juiz deixou-o sair em liberdade, ficando apenas obrigado a apresentar-se quinzenalmente na esquadra.

A jovem turista está a receber acompanhamento psicológico e apoio da embaixada italiana em Portugal."


Fonte: Expresso


Peça da SIC: http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article724124.ece


É de lamentar que situições como esta, de rapto e violação desta forma cabal, aconteçam em Portugal. No entanto, é ainda mais vergonhoso para o nosso país que o homem que praticou tal acto, com o acréscimo de estar ilegal no país, seja simplesmente libertado. O homem que violou praticou um crime horrendo contra aquela mulher italiana, o juiz, ao libertar o primeiro, praticou um crime horrendo contra todas as mulheres do nosso "pequeno e pacato" país...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

« Cidade do México penaliza assassínios de mulheres por razões de género




Assassinar uma mulher por razões de género passou a ser um crime tipificado no Código Penal do distrito do México e as condenações podem ir dos 20 aos 60 anos de prisão. Nos últimos dois anos foram mortas naquela região mais de 200 mulheres.

A mudança que agora entrou em vigor no Código Penal do distrito a que pertence a capital mexicana não se refere a todos os assassínios de mulheres, mas sim àqueles que foram motivados por questões de género, os casos “em que a vítima apresente sinais de violência sexual de qualquer tipo”. Os assassínios na sequência de violações, por exemplo, ou de violência doméstica.

A reforma penal já tinha sido aprovada em Junho pela assembleia legislativa local, mas foi agora publicada. Na nova lei é tipificado o crime de “feminicídio” para os casos de violência sexual ou “mutilações prévias ou posteriores à privação da vida”.

Organizações como a Amnistia Internacional têm vindo a denunciar o aumento destes crimes no México, o que estará relacionado com uma elevada taxa de impunidade e com dificuldades no acesso à justiça. Só nos arredores da capital mexicana foram assassinadas 203 mulheres por questões de género entre Janeiro de 2009 e Dezembro de 2010, segundo o Observatório Nacional de Feminicídio no México. Dessas, 108 tinham entre 21 e 40 anos de idade.

O Governo local do distrito do México adiantou em comunicado que, de acordo com a nova legislação, serão considerados “feminicídios” os casos em que tenha havido ameaças ou em que a vítima tenha sido alvo de violência ou quaisquer tipo de lesões, bem como as situações em que o corpo seja exposto ou deixado num local público, adiantou a agência EFE. Nestes casos, é muito comum a vítima ter estado incomunicável mesmo antes de ter sido assassinada.

Estes crimes podem agora ser condenados a penas que vão dos 20 aos 50 anos de detenção, mas nos casos em que exista uma relação sentimental entre o agressor e a vítima, qualquer relação de parentesco ou de confiança, a moldura penal aumenta, sendo a pena mínima de 30 anos e a máxima de 60 anos de detenção.

O chefe de governo do Distrito Federal do México, Marcelo Ebrard, considerou que este é “um passo para construir uma sociedade onde exista efectivamente igualdade e as mulheres vivam livres de violência”. Os dois novos artigos inscritos na legislação distrital determinam que os assassínios de mulheres por questões de género devem ser investigados recorrendo a procedimentos como o registo fotográfico da vítima e a descrição das sua lesões, bem como a recolha de amostras de ADN que devem ser catalogadas numa base de dados genéticos. »


segunda-feira, 25 de julho de 2011

"A Desfolhada Portuguesa" - Ary dos Santos


Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.

Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.


É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor


filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.


Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.


Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha mágoa e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.

É trigo loiro
é além tejo
o meu país

neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.


Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.


Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.


Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.


Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.


Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.

Interpretação de Simone de Oliveira na Eurovisão de 1969:



Interpretação de A Naifa:



Interpretação de Ana Vasconcelos:

terça-feira, 21 de junho de 2011

A segunda figura do Estado português é uma mulher


Depois de Maria de Lourdes Pintasilgo ter ocupado o cargo de Primeiro-Ministro, em Portugal, de '79 a '80, Maria Assunção Esteves foi hoje nomeada para o cargo de Presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado, o mais alto cargo alguma vez ocupado por uma mulher em Portugal.



"Assunção Esteves eleita Presidente da Assembleia por maioria confortável


Assunção Esteves foi eleita para a Presidência da Assembleia da República por 186 votos, ficando a 18 votos do resultado obtido em 2009 por Jaime Gama - que foi o presidente da AR mais votado desde o 25 de Abril - mas que mesmo assim é uma maioria confortável.

A candidata do PSD obteve ainda 41 votos brancos e dois nulos. Votaram 229 deputados, tendo faltado um.

Assunção Esteves torna-se assim na primeira mulher a assumir o cargo que representa a segunda figura do Estado.

Assunção Esteves, de 54 anos, foi a primeira mulher a desempenhar o cargo de juíza no Tribunal Constitucional, onde esteve entre 1989 e 1998, e também a única eurodeputada eleita para o Parlamento Europeu nas eleições de 2004, pela lista de coligação Força Portugal (PSD/CDS-PP).

Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, onde também fez um mestrado em Ciências Jurídico-Políticas, Assunção Esteves foi eleita deputada pelo círculo de Vila Real, em 1987, na primeira maioria absoluta liderada por Cavaco Silva, escreve a Lusa.

Entre 1989 e 1998, Maria Assunção Andrade Esteves, nascida em Valpaços a 15 de Outubro de 1956, foi juíza do Tribunal Constitucional, escolhida pela Assembleia da República. Em 2002, voltou ao Parlamento, durante a vigência do governo liderado por Durão Barroso, tendo assumido nessa legislatura a presidência da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Desde 1976, depois do socialista Henrique de Barros ter presidido à Assembleia Constitucional, a Assembleia da República teve 11 presidentes diferentes. Assunção Esteves é a décima segunda e a primeira mulher a ocupar o cargo. Os anteriores foram os seguintes : Vasco da Gama Fernandes (PS), Teófilo Carvalho dos Santos (PS), Leonardo Ribeiro de Almeida (PSD), Francisco Oliveira Dias (CDS), Tito de Morais (PS), Fernando Amaral (PSD), Vítor Crespo (PSD), Barbosa de Melo (PSD), Almeida Santos (PS), Mota Amaral (PSD), e Jaime Gama (PS)."


Fonte: Público



No seu discurso reservou uma nota de luta feminista: 

"Dedico este meu momento de alegria a todas as mulheres, às mulheres políticas, que trazem para o espaço público o calor da entrega e a matriz do amor, mas sobretudo, às mulheres anónimas e oprimidas. Farei de cada dia um esforço para a redenção histórica da sua circunstância".


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Manifesto e Protesto SLUTWALK Lisboa


"SlutWalk* Lisboa – pela autodeterminação sexual em todas as circunstâncias


* SLUT, galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca, fácil.


Em Janeiro de 2011 um polícia afirmou em Toronto que as mulheres devem evitar vestir-se de forma provocante se não quiserem ser violadas. A SLUTwalk Lisboa junta-se à vaga de indignação que esta afirmação causou um pouco por todo o mundo.

Recusamos totalmente a culpabilização das mulheres face a situações de violência sexual. Mude-se as leis, mude-se quem agride. Mude-se a cultura patriarcal que diz às mulheres para não serem violadas, em vez de dizer aos homens para não violarem. Mude-se a moral dominante, onde SLUTs são todas as mulheres que não se limitam à sexualidade heterossexual, monogâmica e reprodutora.

Se SLUT – galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca, fácil – é uma mulher que decide sobre o seu corpo, sobre a sua sexualidade, e que procura prazer, então, somos SLUTs, sim!

Não queremos piropos sexistas, não queremos paternalismo, não queremos violência sexual. Dizemos não, por mais cidadania. Dizemos não, por mais democracia. Dizemos não, por mais liberdade.

Se ponho um decote… Não é Não!
Se pus aquelas calças de que tanto gostas… Não é Não!
Se uso burqa… Não é Não!
Se durmo com quem me apetece… Não é Não!
Se passo naquela rua… Não é Não!
Se vamos para os copos… Não é Não!
Se me sinto vulnerável… Não é Não!
Se sou deficiente… Não é Não!
Se saio com xs maiores galdérixs…Não é Não!
Se ontem dormi contigo… Não é Não!
Se sou trabalhadora sexual… Não é Não!
Se és meu chefe… Não é Não!
Se somos casadxs, companheirxs, namoradxs… Não é Não!
Se sou tua paciente… Não é Não!
Se sou tua parente… Não é Não!
Se tenho relações poliamorosas… Não é Não!
Se sou empregada de hotel… Não é Não!
Se tens dúvidas se aquilo foi um sim, então… Não é Não!
Se não entendes a língua que eu falo… Não é Não!
Se beijo outra mulher no meio da rua… Não é Não!
Se tenho mamas e pila… Não é Não!
Se disse sim e já não me apetece… Não é Não!
Se adoro ver pornografia… Não é Não!
Se ando à boleia… Não é Não!
Se estamos numa festa swing, numa sex party ou numa cena BDSM… Não é Não!
Se já abrimos o preservativo… Não é Não!

NÃO é sempre NÃO. Quando é SIM, não há ambiguidades ou dúvidas porque sabemos o que queremos e sabemos ser claras. "


Protesto no dia 25 Junho no Largo de Camões, Rossio, às 17.30h


Fonte: http://slutwalklisboa.wordpress.com/

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sugestão de leitura


Feminismos - Percursos e Desafios, de Manuela Tavares

Manuela Tavares, investigadora da Universidade Aberta, faz a História dos Movimentos Feministas em Portugal no último século, a primeira publicação de fundo, nesta área. Do Estado Novo, em que a ideologia dominante impunha a submissão das mulheres, ao dogmatismo das esquerdas políticas, que não souberam captar a pluralidade dos feminismos e as contradições de género na sociedade.


Fonte: Almedina

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Manuela Tavares: "Elas acham que não é feminismo, mas é"

O chavão de que não há feminismo em Portugal e o mito de que o feminismo é radical e contra os homens foram ambos desconstruídos por Manuela Tavares. Feminismos mostra os caminhos do futuro do feminismo e sistematiza pela primeira vez 60 anos de história de Portugal contada pelo lado que não costuma ser tido em conta.

Aos 60 anos, Manuela Tavares tem quatro décadas de activismo feminista, apesar de só nos últimos 20 anos se ter assumido como feminista. Fundadora da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), foi uma das mulheres que, em 1982, se mostraram nas galerias da Assembleia da República envergando T-shirts com "Eu abortei".

Aliando o activismo à reflexão teórica - uma das raríssimas feministas portuguesas a fazê-lo -, Manuela Tavares defendeu em Março de 2008 uma tese de doutoramento inédita e pioneira em Portugal: Feminismos em Portugal (1947-2007). Um trabalho de história e de reflexão que procura explicar por que razão em Portugal subsiste a ideia feita de que o feminismo é algo negativo. Um importante contributo para a compreensão do Portugal que somos e para a construção de uma sociedade mais democrática e mais igualitária nos direitos de todos, que agora surge nas livrarias sob o nome Feminismos.

Editado pela Texto/Leya, a obra será apresentada dia 15 de Março, às 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa, pela historiadora Irene Pimentel e pela socióloga Anália Torres, que, com Anne Cova, orientou a tese.


Ler entrevista aqui.

sábado, 7 de maio de 2011

"Coco Chanel - A Revolucionária da Moda"



"Quando, em 1999, a revista americana Time elaborou uma lista das cem personalidades mais marcantes do século XX, constava dela uma mulher cuja vida foi dedicada à moda, ao estilo, à elegância feminina. Coisas demasiado fúteis para lhe valer tal estatuto, poderá pensar-se. Coco Chanel, porém, foi tudo menos fútil. E não se limitou a fazer moda. Através das suas criações inspiradas e arrojadas, «madmoiselle», como a tratavam os colaboradores, fez uma autêntica revolução de mentalidades.

Ao longo da primeira década de 1900, Freud publica A Interpretação dos Sonhos, Marconi faz a primeira radiotransmissão, Einstein formula a teoria da relatividade, o pioneiro da aviação Santos Dumont sobrevoa Paris e Chanel... abre o seu primeiro salão de costura, no nº 21 da Rue Cambon, em Paris. Ali, onde se situa ainda hoje a Casa Chanel, mudará para sempre a forma de vestir das mulheres, libertadas do constrangedor espartilho pouco tempo antes por Paul Poiret.

Um contributo à primeira vista pouco relevante para a Humanidade, argumentar-se-á. Mas inquestionavelmente mais importante do que muitas manifestações sufragistas, contrapomos.

A verdade é que o estilo de vida das mulheres independentes, ativas e trabalhadoras teria sido mais difícil sem esta pioneira que ousou tornar a elegância confortável, permitindo uma liberdade de movimentos antes impensável, e que se tornara tão necessária na hora de dançar o frenético charleston como no momento de entrar e sair dos recém-criados automóveis...

Chanel começou por introduzir no seu próprio guarda-roupa peças então exclusivamente masculinas - algumas do universo desportivo - como as calças, o blaser ou os cardigãs de lã, e a substituir os rígidos modelos cintados e de amplas e incómodas saias compridas que as senhoras da alta sociedade dos séculos anteriores vestiam por modelos fluidos, de cintura descaída e com a perna à mostra. E fez o mesmo com os chapéus, a primeira peça a que se dedicou, reduzindo-os para tamanhos ergonómicos e estilizando-lhes os enfeites. Dizia, aliás, com humor, que os modelos imensos, hiper-ornamentados e pesadíssimos que se usaram nos séculos XVIII e XIX só podiam afetar o cérebro das suas portadoras. Foi ela, também, a primeira a usar o cabelo curto à la garçonne que se tornou imagem de marca dos Loucos Anos 20.

Entre os "atrevimentos" de Chanel que fizeram história e se tornaram obrigatórios conta-se, por exemplo, o vestido preto básico, nascido em 1926 e pensado para ser usado tanto no dia-a-dia como em eventos mais formais, desde que conjugado com os acessórios certos. Num tempo em que para as mulheres o preto era a cor de luto, Coco transformou-o no oposto: na cor das festas!

Defensora de que a moda deve descer das casas de costura e não o contrário, Coco adotava sempre em primeira mão os seus modelos - privilegiando as cores que preferia, o preto, o bege e o branco -, sendo depois seguida pelas mundanas emancipadas e, só muito mais tarde, pelas massas. Não se pense, porém, que a criação visual Chanel dos primeiros anos, com um toque colegial algo andrógina, presidiu o desejo de masculinizar a mulher e retirar-lhe elegância. Pelo contrário, Coco Chanel, que apesar das suas origens humildes, se movimentou na alta sociedade e conviveu de perto com a nata das vanguardas artísticas do seu tempo - entre as amizades contavam-se nomes como Picasso, Cocteau, Stravinsky, Tulouse-Lautrec, Renoir, Mallarmé, Proust ou Colette -, tinha com a elegância, a beleza, a estética e o luxo numa relação privilegiada, intuitiva, feita de equilíbrio e descrição, pois abominava a vulgaridade, a ostentação e o excesso.

Filha de um feirante, Albert Chanel, e de uma costureira, Jeanne Devolle, Gabrielle Bonheur Chanel nasce a 19 de Agosto de 1983, em Saumur, no noroeste de França. A mãe morre e exaustão aos 33 anos, quando ela tem apenas 12 anos, e pouco depois o pai parte para a América, abandonando-a e aos 5 irmãos, aos cuidados de familiares, que rapidamente entregam as raparigas a um orfanato e mandam os rapazes trabalhar numa quinta. Aos 18 anos, Gabrielle é enviada para um convento para aprender costura e, 3 anos depois, entra numa casa de confeção de enxovais.

Pouco interessada em seguir os passos da mãe e ser apenas uma «costureirinha», Gabrielle anda nos 24 anos quando, de visita a um tio, em Vichy, começa a cantar num café-concerto frequentado pelos oficiais pelo regimento local. Pequena, magra e bonita - numa palavra, mignone -, conquista uma legião de admiradores que passa a tratá-la por Coco, em alusão a uma canção que interpreta muitas vezes, Qui qu'a vu Coco dans le Trocadero. Entre eles, Étiene Balsan, um nobre rico que se apaixona por ela e a leva para o seu castelo. O romance durará pouco, mas a amizade perdurará, e Étiene, que a introduz na alta sociedade, aprentá-la-á também ao grande amor da sua vida, o inglês Arthur Capel, conhecido por Boy, com quem Coco manterá uma ligação de 10 anos, que terminará dramaticamente com a morte do empresário e famoso jogador de polo num acidente de automóvel, na véspera de Natal de 1919.

Coco podia ter vivido à custa dos homens ricos e influentes com quem se envolveu, mas essa não era definitivamente a sua ideia de independência. Por isso, nunca se casou, e, mesmo não rejeitando o incentivo e apoio monetário de alguns desses homens, nomeadamente de Capel, que financiou a sua primeira loja de chapéus, nunca deixou de trabalhar arduamente. E com talento, dedicação e uma vontade férrea, a menina humilde de Saumur acabou por ser, de facto, muito mais do que uma «costureirinha».

«A moda tem que ver com ideias, com a forma como vivemos, com o que está a acontecer», disse Chanel um dia. Ela própria acabou por ter a noção de que, mais do que ornamentar os corpos femininos, estava a transformar a moda numa filosofia de vida. Porque teve a capacidade visionária de antecipar o que o mundo em vertiginosa evolução ia exigir às mulheres. Em troca, elas permitiram-lhe construir um verdadeiro império. Que seria temporariamente ameaçado pelos sonhos imperialistas de Hitler, pois em 1939, sem matérias-primas nem clientela, Chanel dispensa todo o pessoal e encerra o salão. Mas não deixa Paris. Instala-se numa suite do Hotel Ritz (passará aí os últimos anos de vida) e envolve-se com um oficial das SS, Hans von Dincklage, que a apoia na tentativa de aproveitar o anti-semitismo do momento para tentar recuperar a totalidade dos direitos do seu famoso e mundialmente vendido Chanel Nº 5 - o perfume que Marilyn Monroe «vestia» para dormir -, concebido em 21 pelo seu «nez», Ernst Beau, mas produzido e comercializado, desde 24, por dois irmãos judeus que tinham 80 por cento dos direitos, Pierre e Paul Wertheimer (sócios da empresa de cosméticos Bourjois e cujos descendentes possuem hoje a totalidade da casa Chanel).

No pós-guerra, valeu-lhe a intervenção do seu amigo Winston Churchill para não sofrer consequências mais pesadas, mas viu-se obrigada a exilar-se na Suíça até 54. De regresso a Paris, por pressão dos Wertheimer, que tinham recuperado todo o seu património, mostra, aos 71 anos, que a sua criatividade continua em forma, concebendo o famoso tailleur em tweed, com quatro bolsos de chapa e botões jóia, que deveria usar-se com um camiseiro de ceda e dois outros must Chanel: o scarpin de duas cores e a mala acolchoada com corrente dourada. A versão ultra feminina, elegantíssima, do fato de homem, ideal para o novo papel que as mulheres começavam a desempenhar: o de executivas.

Nos anos 60, porém, Madmoiselle será confrontada com um fenómeno que a horroriza: o visual flower power, que nasce nas ruas, pela mão dos hippies, e influencia o que se faz nas casas de costura. Chanel detesta tudo no visual dos jovens desta época, dos cabelos compridos dos hippies às minissaias criadas por Mary Quant, e recusa-se a aderir. Aos 87 anos, e já incapaz de acompanhar os ares do tempo, vai-se fechando em si própria e morre isolada a 10 de Janeiro de 1971.


Ana Paula Homem."

Fonte: Caras (07 de Maio de 2011)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Principes e Princesas - Casamentos de Sonho?


Papel de "princesa" é cada vez menos apelativo para as mulheres

Os casamento reais reforçam estereótipos de género, valorizando o "apagamento" da mulher, mas o papel de "princesa" é cada vez menos apelativo às mulheres, que encontram no mundo do espetáculo um "sonho" em que não perdem a "autodeterminação". A propósito do casamento do príncipe William de Inglaterra com Kate Middleton, académicos especialistas em questões de género e feministas apontaram para uma crescente desvalorização social da figura da princesa.


"Hoje há um sonho muito mais ligado à autonomia, à autodeterminação, com uma identificação maior com cantoras, atrizes, modelos. São papéis que remetem para o poder social e liberdade", defendeu Sofia Aboim Inglez.

A socióloga, especialista em questões de género, considera que às mulheres, particularmente mais jovens, é pouco atrativo "o rigor e austeridade que uma princesa tem que demonstrar", existindo, por outro lado, "um maior ceticismo" em torno dos casamento reais, patente na exploração por parte da chamada imprensa cor-de-rosa do "lado podre da realeza".


Reforço de estereótipos

Se é verdade que os casamentos reais "vão-se adaptando a novas realidades", e "não é por acaso que já não será exigido à nova princesa um teste de virgindade", enquanto há 30 anos isso constituiu um assunto a propósito do casamento da princesa Diana, os casamento reais insistem "no reforço de estereótipos", aponta a vice-presidente da UMAR, União de Mulheres Alternativa e Resposta.

"Os contos de fadas têm caráter não só lúdico mas sobretudo regulador que vai bombardeando as crianças, com regras restritas de género, de classe ou de sexualidade. Os casamentos reais também, mas vão-se adaptando a novas realidades", defendeu Salomé Coelho.

O contexto dos casamentos reais e dos contos de fadas remete para um elogio ao "apagamento" da Mulher, não sendo a entrada de plebeias questionadora dos estereótipos, diz Salomé Coelho, já que nos contos de fadas também era essa ascensão social que construía a narrativa, mas até pelo contrario, porque que mulheres como a princesa das Astúrias, tiveram que deixar de trabalhar.

"Uma mulher é tão mais valorizada quanto é capaz de apagar a sua individualidade em função do novo marido, que é príncipe, implicando entrar no seu mundo e viver segundo essas regras. Mais, como a pequena sereia, que até o corpo transforma para se adaptar ao amado, é responsabilidade das mulheres moldarem-se, paciente e persistentemente, aos príncipes, sob pena da relação não ter um final feliz", argumentou.


Contos de fadas

A socióloga Cristina Duarte, do centro de estudos sobre a Mulher da Universidade Nova de Lisboa, sublinha que quando se pensa numa princesa é com esforço que se chega a uma cidadã.
"De que falamos quando falamos de princesas? De família real, de transmissão cultural, de ficção quotidiana, de contos de fadas. Só em último lugar, de mulheres e de cidadania", afirmou.

Para o antropólogo Miguel Vale de Almeida, eventos como os casamentos reais veiculam a "péssima mensagem" de que "a iniciativa e a decisão, em tudo na vida, cabe aos homens, e que elas podem ser 'agraciadas' pela escolha daqueles, sobretudo os poderoso, em função da beleza das raparigas".

"Algumas mulheres" poderão "sentir ainda fantasias românticas desse tipo, mas certamente enquanto memórias de infância", considerou.

Para Salomé Coelho, "caberá mudar a história" não só aos príncipes e princesas, mas também aos consumidores destas narrativas "que reproduzem as desigualdades das pessoas nas hierarquias do poder, os estereótipos de género e o poder patriarcal".


Lusa"
FONTE: Público

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Corão e o problema da interpretação (ou estupidificação)

"O Corão é como uma grande loja, um grande supermercado. Dele podemos retirar várias respostas. A partir do Corão podemos fazer paz; de acordo com o Corão podemos declarar guerra. O Corão tem muitas vozes. Os moderados apoiam a sua ideologia em alguns versículos do Corão, os radicais fazem o mesmo com outros versívulos do Corão."