segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Porno e masturbação "no escurinho" (ou não) em Lisboa


Ciclo organizado pela UMAR realiza-se a 2 e 3 de Dezembro, em Alcântara.

É "no escurinho", mas nem tanto. Querem-se, sim, conversas abertas sem preconceitos ou tabus.

Iniciativa da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), o ciclo "No escurinho do cinema: porno e masturbação" realiza-se a 2 e 3 de Dezembro, no Centro de Cultura e Intervenção Feminista, em Alcântara.

A abrir, às 20h de sexta-feira, o "workshop" "Como encontrar o Ponto G (e o encanto dos enquantos)?" Prometem-se algumas respostas com o "treino do pavimento pélvico e prazer vaginal", sugestões de estimulantes, brinquedos e explicação de técnicas de masturbação. Haverá ainda tempo para uma contextualização do movimento feminista.

Às 22h15, começa o cinema, e continuam as conversas, com "A Pornógrafa - Parte I". Em cartaz está o documentário de 2008 "Barcelona Sex Project" da sueca, sediada em Barcelona, Erika Lust. "Porno de bom gosto, cinema explícito para adultos, moderno, feminino e feministas" são termos a que a realizadora recorre para descrever o seu trabalho. No dia seguinte, sábado, às 14h, são exibidos "Cinco Historias Para Ellas" (2007), "Life Love Lust" (2010), "Love Me Like You Hate Me" (2010) e "Handcuffs" (2010).

O ciclo termina com uma actividade que promete: a escrita colectiva de um guião de filme porno. Existirá por aí um novo talento português? »


Fonte: Público On-Line | P3

sábado, 26 de novembro de 2011

Stalking: Perigo para mulheres jovens e sozinhas


O primeiro estudo sobre o fenómeno de assédio persistente em Portugal foi apresentado nesta sexta-feira. Reclama-se legislação capaz de abarcar todas as formas de stalking e, sobretudo, de punir este crime.

Ser mulher, solteira ou separada/divorciada e jovem são os factores de risco para a vitimação por stalking, segundo o primeiro estudo realizado em Portugal sobre este fenómeno que se define por uma perseguição ou um “assédio persistente”. O trabalho, coordenado pela investigadora da Universidade do Minho, Marlene Matos, foi apresentado hoje e conclui que 19,5 por cento das 1210 pessoas (homens e mulheres) inquiridas já foram vítimas de perseguição.

O stalking é definido como um “padrão de comportamentos de assédio persistente que integra formas diversas de comunicação, contacto, vigilância e monitorização de uma pessoa-alvo por parte de outra – o/a stalker”. Tentativas insistentes de entrar em contacto por cartas, telefonemas ou emails, perseguir, agredir, ameaçar, filmar ou tirar fotografias sem autorização, invadir ou forçar a entrada em casa, são algumas das muitas formas de stalking.

Marlene Matos defende a criação de legislação em Portugal para punir criminalmente o stalking, um “assédio persistente” cujas principais vítimas são as mulheres. “Em Portugal, o stalking não é crime, mas há necessidade de criar legislação específica para este fenómeno, à semelhança do que já acontece em vários outros países”, sustenta a investigadora, que gostaria de ver criada “legislação que inclua todas estas formas intrusivas”.

De acordo com as conclusões do estudo realizado na Universidade de Minho,
  • as mulheres (67.8 %) são as principais vítimas destas várias formas de perseguição e 
  • os homens são os principais stalkers (68 %)

  • Na maior parte das vezes o stalker é alguém conhecido (40,2 %)
  • ou ex-parceiro da vítima (31,6%)
  • Apenas 24,8 % dos inquiridos declarou que o stalker era um desconhecido

O risco de ser vítima de stalking é maior 
  • entre os 16 e 29 anos (26,7 % numa amostra de 80 pessoas) do que nos anos seguintes, 
  • entre os 30 e 64 anos, onde a prevalência baixa para os 20,3% numa amostra de 138 pessoas.
  • Acima dos 65 anos a prevalência encontrada nas 18 pessoas inquiridas foi de 7,8 %

As três formas mais declaradas de stalking neste estudo foram as 
  • tentativas de entrar em contacto (79,2 %), 
  • o “aparecer em locais habitualmente frequentados pela vítima” (58,5%)
  • ser perseguido (44,5 %)
Em média, as vítimas são alvo de mais de três comportamentos que podem ser definidos com stalking. “Genericamente, homens e mulheres relatam os mesmos comportamentos de vitimação. Duas excepções para “ser filmado ou tirar fotografias de forma não autorizada” que foi uma experiência mais comum entre os homens e “ser perseguido” que foi um comportamento de vitimação mais frequente nas mulheres”, refere o estudo.

Independentemente do sexo da vítima, a perseguição tende a prolongar-se 

  • entre as duas semanas (21,7%) e os seis meses (31,9 %)
“À medida que a intimidade da relação aumenta, aumenta a duração do stalking”, verificou o estudo notando ainda que “as agressões à vítima ou a terceiros ocorreram principalmente quando a duração do stalking foi superior a dois anos”.

As vítimas declararam ter sido afectadas na sua 
  • saúde psicológica (36,6 %) e no 
  • estilo de vida (25,4 %)
  • apenas 40 % procurou algum tipo de apoio, sendo que os pedidos de ajuda partiram sobretudo das mulheres (48,1 % vs 25 %). 
E a quem pediram ajuda? 
  • Em primeiro lugar a amigos (66,7 %)
  • seguidos dos familiares (64,6%)
  • dos colegas de trabalho/estudo (30,2 %)
  • Apenas 26 % optaram por recorrer às forças de segurança 
  • e 21,9 % a profissionais de saúde.
O stalking não está previsto como crime no Código Penal português, que, no entanto, pune várias acções singulares relacionadas com o fenómeno, como assédio sexual, ofensas à integridade física simples ou grave, violência doméstica, ameaça, violação de domicílio, devassa ou perturbação da vida privada. 

A expectativa deste estudo da UM é estimular o desenvolvimento de legislação específica e a implementação de medidas para protecção destas vítimas. Actualmente, na Europa, a lei anti-stalking já vigora em nove países, designadamente Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Itália, Malta e Reino Unido.


[alterada a forma sem prejuízo para o conteúdo]

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Portugal é o país com mais idosas abusadas sexualmente

Não são as vítimas mais frequentemente associadas a este crime, mas há mulheres entre os 60 e os 97 anos a serem abusadas sexualmente em Portugal. Somos o país com maior incidência do problema, segundo um estudo europeu realizado em cinco países.

Na população idosa, a violência sexual tem mesmo uma dimensão maior do que a violência física, cuja percentagem fica próxima dos 3%. Quando o foco é o abuso sexual, a percentagem é de 4%. O valor supera a média dos países alvo do estudo: Bélgica, Finlândia, Áustria, Lituânia.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Afegã violada tem de casar-se com o agressor para sair da prisão


Uma afegã de nome Gulnaz, de 21 anos, enfrenta um terrível dilema: ou permanece na prisão com uma filha pequena, cumprindo pena por ter sido violada por um homem casado, ou contrai matrimónio com o agressor para poder sair da prisão.
A única forma de Gulnaz ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério é casar-se com o seu agressor

Quando Gulnaz tinha 19 anos foi violada pelo marido de uma das primas. Dois anos depois, a jovem ainda se recorda dos pormenores do episódio: “Ele tinha as roupas nojentas, porque trabalha na construção. Quando a minha mãe saiu, ele veio até minha casa e fechou as portas e as janelas. Eu comecei a gritar mas ele calou-me, tapando-me a boca com as mãos”, descreveu Gulnaz à CNN.

Depois da violação não contou a ninguém o que se tinha passado – sabendo que não seria ajudada – mas depressa a verdade veio à tona: estava grávida.

Acabou por ser julgada por adultério e condenada a 12 anos de prisão. É lá que está actualmente, com a sua filha. Cumprem pena em conjunto.

Para sair da prisão, só tem uma solução: casar-se com o seu agressor. A única forma de uma mulher afegã ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério, é casar-se com o seu atacante.

E é precisamente isto que Gulnaz está disposta a fazer. “Perguntaram-me se eu estava disposta a começar uma nova vida de liberdade casando-me com este homem”, disse a jovem à CNN. “A minha resposta foi que há um homem que me desonrou e que eu quero ficar com esse homem”.

A jovem diz que na sua decisão pesa o futuro da filha. Só assim poderão permanecer juntas e em liberdade.

Mas - adianta a CNN - a escolha de Gulnaz não a livra de perigo. A família do atacante ou mesmo a sua própria família poderão querer matar a jovem por ter desonrado o nome familiar. É muito provável que, mal ponha pé fora da prisão, Gulnaz corra perigo de vida.

Casos como o de Gulnaz são comuns no Afeganistão mas este tornou-se notícia após uma disputa entre a UE e uma equipa de realizadores contratados pela própria União Europeia para levarem a cabo uma série de documentários sobre os direitos das mulheres no Afeganistão.

Os realizadores fizeram uma extensa reportagem sobre Gulnaz e sobre histórias de outras mulheres que falaram abertamente para as câmaras, sem lenços a cobrirem-lhes os rostos, sobre as suas vidas.

Depois de mostrarem as filmagens aos responsáveis da UE, estes decidiram cancelar o projecto afirmando que essas mulheres poderiam ser identificadas e sofrer represálias.

Mas os realizadores - citando um e-mail da UE cujo conteúdo foi parar aos media – afirmam que o problema está nas relações delicadas entre a UE e o Afeganistão, que é apresentado de forma muito pouco favorável (especialmente o seu sistema judicial).

Pode ler-se no e-mail, segundo a CNN: “A delegação tem de considerar as suas relações com as instituições de Justiça afegãs”.

O embaixador da UE para o Afeganistão, Vygaudas Usackas, rejeitou, porém, qualquer motivação política para a suspensão do projecto documental. “Eu estou realmente preocupado é com a situação das mulheres. Com a segurança e o bem-estar destas mulheres (...) esse é o critério de acordo com o qual eu - como representante da UE - irei julgar este caso”, disse o embaixador, citado pela CNN.


Agradeço o contributo a: Afonso

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Denúncia da violência contra mulheres desfila em Lisboa na sexta-feira


Pela primeira vez em Portugal, a denúncia da violência contra as mulheres tomará a forma de uma marcha de rua, que vai acontecer na sexta-feira, em Lisboa, juntando 60 entidades.

Organizada pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), pela ComuniDária - Associação de Integração de Migrantes e Minorias Étnicas e pelo movimento SlutWalk Lisboa, a marcha vai partir do Largo de Camões, às 17h, em direcção ao Rossio.

A iniciativa “surge da necessidade” resultante de “algumas decisões na justiça que revitimizam as vítimas de violência”, explicou à Lusa Salomé Coelho, da direcção da UMAR.

O comunicado sobre a marcha distribuído à imprensa indica que o objectivo é “combater” as “situações em que vítimas de violações, abusos, assédio não vêem os seus direitos tomados em conta em sede da justiça”.

Sem particularizar os casos judiciais a que se refere, Salomé Coelho recorda a mais recente manifestação, a 14 de Maio, em frente ao Tribunal da Relação do Porto, por altura do acórdão que absolveu um psiquiatra do crime de violação contra uma paciente grávida.

Em Julho de 2010, um psiquiatra foi condenado em primeira instância a cinco anos de cadeia, com pena suspensa por igual período, por violação de uma cliente, grávida, durante uma consulta privada realizada na residência do especialista.

O psiquiatra recorreu para a Relação do Porto, que, num acórdão de 13 de Abril, revogou a decisão da primeira instância, absolvendo-o. Um dos três desembargadores, Baião Papão, votou contra. O Ministério Público interpôs recurso do acórdão para o Supremo Tribunal de Justiça.

“Este grupo de pessoas e associações sentiu necessidade de sair à rua e tornar público que não somos cúmplice desta violência, destas decisões da justiça, e que estamos vigilantes, que não permitiremos nem mais uma mulher revitimizada pelas instituições”, afirma Salomé Coelho, apelando à “mobilização geral da sociedade civil”.

“É imperativo que se comecem a adoptar, de forma rigorosa e generalizada, os mecanismos necessários para combater as opressões de género”, argumentam os organizadores, no comunicado distribuído à imprensa.

Esperando “a reposição dos direitos humanos das mulheres”, denunciam que “o que tem sistematicamente vindo a acontecer é que a justiça, ao invés de ressarcir as vítimas, reforça o poder dos agressores”.

Isto porque, consideram, a violência contra as mulheres, nas suas várias formas, está ainda rodeada “de uma ideologia de culpabilização das vítimas”.

Situações tão diversas como “os piropos na rua, os telefonemas indesejados, a culpabilização pela roupa que se usa, o julgamento moral das sexualidades, o insulto” são “violências” sobre as quais “existe permissividade geral”, criticam.

A marcha de rua de sexta-feira conta com o apoio de 60 entidades nacionais, entre associações, partidos políticos e instituições governamentais.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Filhas de Eva (crónica de João Teixeira Lopes no P3)

Da feminização da população activa aos direitos sexuais e reprodutivos; da entrada em força nas profissões de onde estavam excluídas (por uma suposta “natureza biológica” que determinava uma “vocação social”) à predominância quantitativa e qualitativa (em termos de sucesso escolar) nos vários níveis de ensino, tudo parece confluir para que consideremos a alteração dos lugares e das identidades femininas como uma das mais explosivas mudanças sociais das últimas décadas.

Mas, nas entranhas das rupturas, permanecem os paradoxos de um país onde se vive uma estranha mescla entre o rural e o urbano, o arcaico e o moderno, o preconceito e a emancipação. Portugal não segue, para desespero dos mais ortodoxos, modelos clássicos de evolução social.

Elas são melhores em termos de resultados escolares. Mas são também tendencialmente mais submissas à disciplina e à ordem escolar. Nas empresas, mesmo quando detêm uma certificação escolar e níveis de autonomia e até de autoridade homólogos aos dos seus colegas masculinos, continuam a auferir remunerações inferiores. Quando é necessário contratar contingentes de mão-de-obra flexíveis, intermitentes e polivalentes, elas são as preferidas, prolongando a velha crença de que, sendo mulheres, arrecadam o segundo salário, logo, o subalterno no seio dos rendimentos familiares.

As tarefas educativas das políticas públicas – escolas, departamentos educativos de museus, bibliotecas; etc. – são-lhes preferencialmente confiadas, numa aproximação, nada subliminar, à ideologia maternal (na sua dupla vertente: educar é feminino e educar deve ser mal pago, porque pode e deve conciliar-se com outras tarefas).

Mesmo nas famílias, onde o casamento é cada vez mais um projecto e o divórcio um ajustamento; em que as relações sexuais pré-conjugais separam sexualidade e procriação, em que a divisão sexual das tarefas surge retoricamente como inexorável – mesmo aí, ei-las a acumular tarefas, a conciliar trabalho e carreira (quando a há…), lides domésticas, educação dos filhos, cuidado dos mais velhos e lazeres.

Na esfera da apresentação de si, libertam-se um pouco das correntes da “boa aparência”. Mas a tirania do corpo perfeito; a obrigação de certas posturas e roupagens; o “trabalhar” da “máscara” e do “look” – é sobre si que apertam. Não por acaso, os casos de anorexia, em que a pressão social da perfeição corporal performativa atinge o paroxismo, são em larga parte femininos. Sexualmente hedonistas, representam ainda assim os afectos como uma certa legitimação da sua expressão erótica.

Até nos usos da Web 2.0, as diferenças irrompem: elas passam menos tempo na Net (porque as tarefas são múltiplas), gerem a sua identidade com precaução e privilegiam a comunicação aos negócios. Emancipação mitigada, dir-se-ia, e em tempos descontínuos. Paradoxo dos paradoxos, sabe-se agora que as jovens portuguesas, que vão preferindo a união de facto e casando tardiamente, são, a nível mundial, das que menos filhos têm.

Uma vez mais, misturam-se laivos de desenvolvimento (controle da natalidade; dissociação entre conjugalidade, casamento e reprodução) com entraves de atraso estrutural (não há dinheiro para ter filhos, habitar casa própria e construir um percurso de autonomia). Este país desafia os estereótipos sociológicos e é um laboratório fascinante de estudo. Mas cansa, na sua injustiça. Elas que o digam.


Texto de João Teixeira Lopes (sociólogo e docente na Universidade do Porto)
Fonte: P3

UMAR apoia Marcha pelo Fim da Violência - GREVE GERAL 25 Novembro



Desde 1999, data em que a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o 25 de Novembro como o "Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres", que este é um dia de reconhecimento, batalha e resistência.

A violência contra as mulheres é um fenómeno inerente à opressão patriarcal e à existência de culturas machistas e misóginas em diferentes sociedades, revelando inegavelmente o quão coxas ainda estão as nossas democracias.

A violência contra as mulheres é generalizada e, apesar dos vários Planos Nacionais para a Igualdade e Contra a Violência Doméstica e das campanhas já realizadas, o crime parece não estar a diminuir. De acordo com a ONU, uma em cada três mulheres no mundo já foi espancada, coagida sexualmente, ou vítima de algum tipo de abuso; e uma em cada quatro mulheres na Europa está exposta a um destes tipos de violência. Em Portugal, só em 2010, foram assassinadas 43 mulheres por violência doméstica e de género (Observatório de Mulheres Assassinadas, 2010).



Esta violência é infligida maioritariamente pelos homens (maridos, ex-maridos, companheiros, ex-companheiros namorados, ex-namorados e parentes) que, frequentemente, recorrem a este meio para preservar ou reforçar o seu poder sobre as mulheres, sendo um problema transversal ao nível social, económico, religioso ou cultural.

Sabemos que um dos principais motivos pelos quais as cifras da violência doméstica aumentaram tem a ver, na verdade, com o aumento das suas denúncias, o que representa um avanço importante. Há, pois, mais mulheres a denunciar e mais gente vigilante. Contudo, sabemos também que muita violência continua invisível.


Uma das razões para a invisibilidade da violência é o facto desta ocorrer, muitas vezes, na sombra, entre as quatro paredes do espaço privado, a casa. Outra das razões prende-se com o facto de, na maior parte das vezes (nomeadamente, devido ao receio das próprias vítimas e/ou à sua dependência económica e afectiva), não haver acusação. A terceira razão, para a invisibilidade da violência contra as mulheres, resulta da perpetuação dos valores dominantes, das tradições e até, das próprias leis, onde o fenómeno já foi considerado natural e normal, raramente interpretado como um crime de género. Basta lembrar a célebre atenuante do marido que matou a mulher: “ela deixava esturrar o arroz”. Isto só funciona como atenuante porque o/a juiz/a aceita os papéis de género. Se fosse ao contrário, a mulher nunca teria a pena atenuada por uma razão destas.

A quarta razão está relacionada com o facto de, ainda hoje, serem aplicadas penas que, de tão leves (como a pena suspensa), pouco protegem a vítima, deixando o criminoso praticamente impune, mesmo sendo a violência doméstica considerada crime público. Isto significa que a violência continua, de certa maneira, a ser aceite, sendo percebida tanto pelas pessoas, como pelas instituições e pelo Estado, como uma questão de ordem estritamente privada e não como um crime relevante para a esfera pública.


A violência contra as mulheres adopta várias formas, desde a violação do direito à autodeterminação, ao casamento forçado, à molestação sexual ou psicológica, à exploração ou discriminação, continuando a existir mulheres assediadas, violadas, traficadas, mutiladas e assassinadas em todas as partes do mundo. Frequentemente, o agressor fica impune ou cumpre penas absolutamente ridículas e insultuosas para as vítimas e para o próprio combate às violências, como temos verificado, demasiadas vezes, nos jornais ao longo deste ano.

Assim, é fundamental combater este problema procurando-se, sempre que necessário, fazer justiça.


Com esta marcha pretendemos sensibilizar a sociedade para este fenómeno. É imperativo que se comecem a adoptar, de forma rigorosa e generalizada, os mecanismos necessários para combater as opressões de género, articuladas com opressões económico-sociais, de etnia, nacionalidade, orientação sexual e outras.

Enquanto o provérbio popular diz que: Entre marido e mulher ninguém mete a colher. Nós dizemos: Entre marido e mulher alguém meta a colher. Se possível, cidadãos e cidadãs intolerantes com a violência, polícias capazes de identificar a natureza do crime e, por conseguinte, capazes de accionar as medidas que este tipo de crime requer, e juízas e juízes que tenham presente que não são admissíveis atenuantes arreigadas em valores patriarcais, porque o patriarcado parte da desigualdade e a lei diz que somos iguais.



A violência contra as mulheres não faz o nosso género!

É tão antiga como a Humanidade.

Envergonha e diminui.

É uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais.

É um crime público.

É uma barreira à igualdade de género.

Uma em cada quatro mulheres é alvo de violência.

O espaço doméstico tem sido o maior palco de violência contra as mulheres.


Quem bate nas mulheres fere toda a família.

É preciso combater a violência sexista.

É urgente mudar as mentalidades e eliminar a violência contra as mulheres.

Somos contra a impunidade da violência contra as mulheres.

Não toleramos mais a violência contra as mulheres.

Exigimos justiça.



Não somos cúmplices nem indiferentes!
Nem mais uma. Estamos vigilantes!










Manifesto dos Precários Inflexíveis (Greve Geral de 25 de Novembro): 

sábado, 5 de novembro de 2011