quinta-feira, 29 de março de 2012

Florbela (filme)

Sinopse: «Num Portugal atordoado pelo fim da I República, Florbela (Dalila Carmo) separa-se de forma violenta de António (José Neves). Apaixonada por Mário Lage (Albano Jerónimo), refugia-se num novo casamento para encontrar estabilidade e escrever, mas a vida de esposa na província não é conciliável com sua alma inquieta. Não consegue escrever nem amar. Ao receber uma carta do irmão Apeles (Ivo Canelas), oficial da Aviação Naval e de licença em Lisboa, Florbela corre em busca de inspiração perto da elite literária que fervilha na capital.

Na cumplicidade do irmão aviador, Florbela procura um sopro em cada esquina: amantes, revoltas populares, festas de foxtrot e o Tejo que em breve verá o irmão partir num hidroavião. O marido tenta resgatá-la para a normalidade, mas como dar norte a quem tem sede de infinito?

Entre a realidade e o sonho, os poemas surgem quando o tempo pára. Nesse imaginário febril de Florbela, neva dentro de casa, esvoaçam folhas na sala, panteras ganham vida e apenas os seus poemas a mantém sã. Por isso, Florbela tem que escrever!

Este filme é o retrato íntimo de Florbela Espanca: não de toda a sua vida cheia de sofrimento, mas de um momento no tempo, em busca de inspiração, uma mulher que viveu de forma intensa e não conseguiu amar docemente.»


FONTE: site oficial do filme


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Vicente traz as mulheres para a linha da frente de combate; heroínas “com tomates”, como Florbela, que quase um século depois continua a desassossegar os titulares das calças. “Não gostei do filme. Ela é igualzinha à minha mulher”, justificou um espectador à saída da antestreia em Lisboa. “É a melhor crítica negativa que me podiam fazer”, responde o realizador.

Porquê Florbela?
Primeiro que tudo, gosto muito de mulheres e de personagens femininas. Acho que têm sido negligenciadas no cinema português como heroínas. Já no meu primeiro filme a personagem principal era uma anti-heroína, algo já mais arriscado. Com a Florbela, também por ser uma figura da história portuguesa muito esquecida.

Pouco conhecida, até?
Pouco conhecida, maltratada mesmo pelos intelectuais das literaturas. Ainda numa década do grande modernismo ela refugiava-se numa composição em soneto, que naquela altura já estaria datada, hoje ainda mais. Acho que isso sempre foi olhado de lado. Curiosamente, acho que no caso da Florbela, reabilitada anos mais tarde pelo José Régio, ela utiliza certa forma, mas há que olhar lá para dentro, o que nos dá a expressão de uma mulher que acho que nunca houve em Portugal.

Em especial atendendo à época, ou ainda hoje seria revolucionária?

A época por um lado era propícia, por outro não. Nos anos 20, com a liberdade da Primeira República, as mulheres podem divorciar-se, como ela fez duas vezes, podem sair, cortam o cabelo, usam calças. Ela chegou a ser apedrejada em Évora por usar calças. De repente há um mundo novo e ela é filha disso. Há uma entrega muito emocional e sensorial, quase sexual, arriscaria, na poesia dela. Acho extraordinário. Era de uma modernidade enorme.

[...]

O tal espectador dizia-lhe que não gostava porque via ali a mulher...
Sim. Sou muito português e acho que o meu cinema vai ser sempre muito português. Continuamos a viver numa sociedade machista, e daí querer trazer mais as mulheres para o cinema. As mulheres no cinema português só são uma de duas coisas: mães ou putas. E os homens têm um medo terrível de uma mulher com tomates, como a Florbela. Como sou alentejano e venho de uma sociedade muito matriarcal, sei que os homens vêm à frente, mas quem manda são elas.


FONTE: i online.

Sobre Florbela Espanca:

«Florbela Espanca é uma figura incontornável da literatura portuguesa do séc. XX. Alentejana de berço, em conflito com o seu tempo, a jovem poetisa escandalizou a sociedade da época, com sucessivos casamentos e divórcios, uma maneira audaz de vestir, e uma personalidade emancipada. Mulher forte e determinada, escreveu o que sentiu, o que amou, o que sofreu. [...]

Os seus versos revelam um erotismo feminino transcendente, pondo a nu a intimidade da mulher, o que abalou a consciência literária da época. A sua escrita aproximava-se do neo-romantismo de fim de século, pelo seu carácter confessional e sentimentalista, e por recuperar o soneto, afastando-se do modernismo tão em voga, levando-a, por isso, a ser menosprezada pelos seus pares que invocavam o constante “feminino” presente nos seus versos.

Apenas décadas mais tarde, a sua importância foi restabelecida na história da literatura portuguesa. Nas palavras da académica Rosilene Rodrigues Coelho, o preconceito em relação à sua obra é fácil de entender: uma “mulher avançada para o seu tempo, fumadora, divorciada, provinciana, filha ilegítima e declarada inimiga do Estado Novo”.

Conta-se que morreu de uma tristeza sem fim, com apenas 36 anos, três anos após a morte do irmão num desastre de aviação. Viveu três casamentos, escreveu poesia e contos, sobreviveu entre traduções e explicações, morou em Évora, Redondo, Matosinhos e Lisboa, numa vertigem altamente invulgar para uma mulher do seu tempo.»


FONTE: site oficial do filme.

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