domingo, 10 de novembro de 2013

Os muitos uniformes da cultura da violação

<b>AR Wear</b>
P3
Esta ideia de uma peça de vestuário (ou outro objecto) que “proteja as mulheres” da violação não é particularmente nova nem particularmente avançada — excepto, talvez, nas componentes mais tecnológicas. No campo da ficção, por exemplo, lembro-me de ler no "Snow Crash" de Neal Stephenson a existência de um dispositivo chamado dentata (do latim “vagina dentata”, vagina com dentes) que incapacitava um agressor masculino assim que ele penetrasse a mulher.

Ora, o falhanço espectacular aqui — e frequentemente repetido ao longo da História, com ditames variados sobre a decência de vestuário — está em, mais uma vez, deslocar o ónus da situação sobre as pessoas mais vitimizadas. Primeiro, por querer estruturar o seu comportamento (“Se não queres ser violada tens que vestir isto. Não tinhas isto vestido? Então se calhar a culpa também é tua.”); segundo, por querer estruturar a atenção e recursos para longe dos agressores (Imagine-se o quão hilariante seria se a inexistência de um dispositivo de castidade num homem desse azo a suspeitas de que ele é violador; mas a suposição contrária já é, de alguma forma, validada contra as mulheres). Não vou repetir os argumentos da presidente da UMAR, que subscrevo, para completar o meu raciocínio. No fundo, tudo se poderia resumir a isto: para não serem violadas, as mulheres têm que fazer A, B, C, D... (É só ignorar que as mulheres que fazem tudo isso são também alvo de violação!). Os homens, ao que parece, não têm nada a ver com a situação, nem têm que fazer nada. Pode-se gastar dinheiro, mas é a coarctar e determinar o que uma mulher pode/deve usar.

Parece-vos que algo aqui está estranho? A mim também. Não sou apologista de uma postura meramente reactiva — se estamos numa cultura machista e patriarcal, que tantas vezes trata os corpos de não-homens como coisas inferiores das quais se pode dispor livremente, então é sobre essa cultura (da violação). Tal como no caso da SlutWalkou como no caso dos piropos, a solução tem também de ser proactiva. Ensinar (os homens) a respeitar, ensinar (os homens) a ouvir e calar durante um bocado, ensinar o valor do consentimento — ensinar que, nas suas várias cambiantes, “Não é Não!” e que, conexamente, “Sim é Sim!” quando esse “Sim” surge dentro de um ambiente de respeito, reflexividade e comunicação.

Isso passa também por lembrar que “violação” não é apenas “penetração vaginal ou anal”, por lembrar que boa parte das violações são feitas por pessoas que conhecem as vítimas, e por lembrar que assistimos diariamente a violações em micro-escala quando olhamos para situações de assédio, de piropos não-requisitados, de olhares objectificantes.

Até ao dia em que as pessoas concordem (ou pelo menos a maioria delas!) que um “Não” nunca pode ser traduzido por “Aqui está um desafio para ver se consegues chegar ao Sim”. Porque o consentimento não é uma ideia óbvia, simples e fácil de colocar em prática, dada a quantidade de (maus) reflexos condicionados que temos, e sim uma componente crítica e complexa das relações inter-pessoais, que é frequentemente atropelada (“Não queres? Vá lá, é só irmos beber um copo! Mesmo? Oh... mas assim eu fico triste. Vem lá, vá... Ah, dizes que não mas bem se vê que até tens vontade de ir dar um pezinho de dança... Não?... Mas tu danças tão bem!, vem lá!...” — repetir durante meia hora) sem sequer nos darmos conta ou, como no caso dos piropos, descartada como histeria quando é apontada.

São estes os vários uniformes da cultura da violação: o uniforme da roupa, sim; mas também o da 'brincadeira', o do 'jogo', o do 'dizes-não-mas-os-olhos-dizem-sim'... E, como afirma uma famosa frase muito usada nas Slutwalks, “Não digam às mulheres o que vestir, digam aos homens para não violar”.

Crónica de Daniel Cardoso.
Fonte: P3.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Como um simples comentário justifica a necessidade imperiosa do feminismo

Já não é novidade que os comentários anónimos que vêm parar ao Diário das "Fêmeas" são já um legado. Este, é provavelmente o mais ridículo de todos. Foi feito a 19 de Abril de 2013 no post "Uma Performance Dedicada a Amina (Condenada à Morte Por Defender o Direito Sobre o Seu Corpo)", o que o torna ainda mais desconcertante. Tão desconcertante que estive estes meses a tentar perceber o que fazer com ele. Se aceitá-lo simplesmente ou se dar-lhe visibilidade, mostrando, dessa forma, que este tipo de pessoas existe e é extremamente necessário lutar contra elas. Mas fica então aqui o dito comentário. Riam-se, se conseguirem.


"não há que enganar, nem como negar: mulheres são todas p***s sem excepção.

sentem atracção única e exclusivamente por ricos, mafiosos, canalhas, traficantes e barões da droga, "alfas", musculados, etc, etc
todos os outros homens, que são 80% ou 90% da população, pura e simplesmente são invísiveis aos olhos de qualquer mulher!

depois, claro, levam merecidamente nos cornos e vão chorar ou queixar-se a alguém, geralmente um "beta" normal, que "os homens não prestam! são todos iguais! buááá!"
vão-se foder, suas hipócritas, vocês só gostam é assim, atracção é por mafiosos, canalhas, ricos.
o resto do "gado" para vocês é inferior, e só serve para pagar contas e fazer favores.
vocês deram cabo da minha vida, destroçaram-na de alto a baixo, humilharam-me de fio a pavio e ainda se riram. 
então não tenho peninha nenhuma de vocês quando são espancadas por algum "alfa" ou por algum criminoso.
vão-se queixar ao caralho. vocês gostam de apanhar, essa é que é essa. e merecem.
por isso, não venham cá com hipocrisias e lágrimas de crocodilo de que"homens são todos iguais"
são todos iguais o c*****o. vocês, sim, são todas iguais sem excepção, apenas existem as mais descaradas e as menos.
queixam-se de "opressão" e "falta de liberdade", mas hoje em dia, qualquer monte de banha feiosa e rídicula humilha e faz o que quer de qualquer homem. e ainda se ri por trás. 
e ainda diz na cara que só gosta de ricos e "famosos".
vão-se foder, mais a merda da vossa ideologia marxista.
espero que as feministas ardam todas...
vocês não merecem uma réstiazinha de respeito, amor ou sequer atenção. é desprezo puro e simples, e acabou, é a única forma de lidar com escumalha como vocês.
depois vemos quem ri melhor, quando envelhecerem sozinhas e solteiras."

Não sei quem vai envelhecer sozinho e solteiro, não....